Sinônimos: osteoartrite, osteoartrose, coxoartrose, artrite, desgaste do quadril
A osteoartrose é um problema comum para muitas pessoas, em especial após a meia-idade. Frequentemente afeta a articulação do quadril, sendo considerada a doença mais comum nesta articulação. Até poucos anos atrás, pouco podia ser feito para previnir, amenizar ou tratar pacientes com desgaste do quadril. Atualmente, a medicina tem disponibilizadas muitas alternativas de tratamento para a artrose do quadril, sempre buscando objetivos claros: amenizar a dor, diminuir a perda e até mesmo ampliar os movimentos da junta e, principalmente, melhorar a qualidade de vida.
A cartilagem articular é o tecido que reveste as superfícies da articulação do quadril, presente tanto na cabeça femoral quanto na cavidade acetabular. A cartilagem, hidratada e lubrificada pelo líquido sinovial, permite que a articulação tenha uma ampla liberdade de movimento , diminuindo o atrito.
Logo abaixo da cartilagem, encontramos uma camada de osso chamada osso subcondral.
O desgaste do quadril nada mais é que a degeneração (doença) da cartilagem articular.
Todos estas alterações descritas levam a diminuição continua e progressiva da amplitude de movimento da articulação e da dor, com a perda gradual da qualidade de vida.
Para uma melhor compreensão, sugiro a leitura da página Anatomia do Quadril - guia básico para pacientes
De uma maneira didática, existem dois tipos de artrose do quadril:
- Artrose Primária Do Quadril
É o desgaste que ocorre no quadril sem que haja uma causa conhecida ou identificável. Com a evolução constante da medicina, com estudos permitindo um melhor conhecimento e entendimento da fisiopatologia da artrose e da modernização dos métodos de diagnóstico complementares (radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética) fica cada vez mais raro o diagnóstico de artrose primária.
- Artrose Secundária Do Quadril
Este é o nome que damos ao desgaste quando conhecemos sua causa.
Alterações no movimento e alinhamento do quadril eventualmente levam ao desgaste das superfícies articulares. O alinhamento do quadril pode ser alterado a partir de uma fratura nos ossos ao redor ou dentro do quadril. Lesões que afetam a qualidade da cartilagem (artrite reumatóide, Lúpus, espondilite anquilose te), infecção (sequelas de artrite séptica), doenças metabólicas ( gota úrica) ou sangramento dentro da articulação (hemofilia) também podem danificar a superfície articular do quadril. Doenças congênitas ou alterações de desenvolvimento ocorridas na infância e adolescência, que possam ocasionar alterações do formato do quadril, seja na cabeça femoral e/ou na cavidade acetabular permitem que forças anormais atuem sobre a cartilagem, levando à degeneração precoce.
São exemplos: displasia congênita de quadril, osteocondrite do quadril ( doença de Legg - Calvè - Perthes), epifisiólise da cabeça femoral (deslizamento epifisário), impacto femoroacetabular.
No entanto, nem todos os casos de desgaste do quadril estão relacionados a problemas de alinhamento, congruência articular, metabolismo, lesões congênitas ou adquiridas. Pesquisadores acreditam que fatores genéticos podem predispor ao desenvolvimento da artrose no quadril.
Também acreditam que problemas no osso subcondral podem desencadear alterações na cartilagem articular. Como mencionado, o osso subcondral é a camada de osso logo abaixo da cartilagem articular. Normalmente, a cartilagem articular protege o osso subcondral. Mas algumas patologias podem tornar o osso subcondral muito duro ou muito macio, alterando a forma como a cartilagem normalmente amortece e absorve o peso corpóreo na articulação.
A NAF tem forte associação com o uso de álcool, fraturas e luxações do quadril e ao tratamento prolongado de medicamentos à base de corticóides.
Link para a página Necrose Avascular Femoral
O primeiro sintoma geralmente é o desconforto na virilha, nádega ou face interna da coxa, muitas vezes irradiando para coluna lombar ou joelho. Quase sempre está relacionada a movimentos específicos, como levantar- se de uma cadeira muito baixa ou sair de um carro ou prática de atividades físicas, como o futebol. É comum o paciente relacionar a dor a uma “distensão na virilha, hérnia de disco lombar e até mesmo lesão de menisco em joelho”.
As dores podem ser mais intensas durante o movimento e inicialmente melhoram quando em descanso. No início sāo esporádicas mas vão tornando- se mais frequentes e intensas com o passar do tempo.
Se o paciente não procurar tratamento precoce para a desgaste do quadril, sua condição ficará progressivamente pior e até em descanso não haverá alívio da dor, muitas vezes chegando a atrapalhar ou mesmo impedir o sono!
A junta do quadril ficará cada dia mais rígida e inflamada. A dor somada à rigidez articular, com consequente atrofia muscular por desuso, acabam por levar o paciente a mancar.
Em resumo, os sintomas mais comuns da artrose do quadril são:
- Dor progressiva e incapacitante
- Dificuldade de caminhar
- mancar
- dificuldade de ficar em pé por períodos prolongados
- Dificuldade de cruzar as pernas
- Dificuldade de colocar sapatos e meias
- Dificuldade de lavar os pés ou cortas as unhas
- Dificuldade de dormir a noite
O diagnóstico do desgaste de quadril é clínico! O médico deve explorar toda a história contada pelo paciente, atentar- se a detalhes e compreender através de perguntas dirigidas quaisquer possíveis dúvidas. A realização de exame físico completo e direcionado ao quadril é imprescindível.
Exames complementares, como os raios-X serão necessários para determinar a extensão do dano à cartilagem, ajudar a identificar uma possível causa, definir o melhor tratamento e permitir oferecer um prognóstico mais preciso.
Outros exames podem ser necessário quando existirem dúvidas quanto a doença que originou a artrose, uma melhor avaliação da anatomia articular e até mesmo o melhor tratamento. Algumas situações podem necessitar exames como a tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética.
Exames de sangue podem ser necessários para descartar artrite séptica ou infecção no quadril.
Para tratar a artrose de quadril, é fundamental tentar entender, determinar e se possível tratar a sua causa. Quadros clínicos iniciais podem responder muito satisfatoriamente ao tratamento da patologia de base; ou seja, a doença que está levando ao desgaste do quadril.
Em situações onde não é mais possível reverter os efeitos da osteoartrose, o tratamento não cirúrgico precoce pode ajudar a minimizar a dor, a incapacidade para andar e a retardar a progressão da doença. A partir do momento em que o paciente não mais responde aos tratamentos clínicos instituídos o especialista poderá lançar não do tratamento cirúrgico.
O tratamento da artrose de quadril, assim como de outras articulações, deve sempre ser individualizado, de acordo com a dor, o grau da doença e com as expectativas e necessidades de cada paciente.
Tratamentos não cirúrgicos
• Medicamentos
Neste tópico, podemos dividir o tratamento medicamentoso em 2 grupos:
- tratamento da dor:
Analgésicos e anti-inflamatórios: são medicamentos exclusivos para controle das crises de dor. Devem ser usados de maneira criteriosa e sempre com prescrição médica. É fundamental entender: medicação para dor alivia a dor mas NÃO cura a artrose.
- condroprotetores
Suplementos:
Utilizados para controle da dor e da artrose. Neste grupo, os mais populares são a Glucosamina e a Condroitina.
Segundo a literatura, a glucosamina e a condroitina agem sobre a cartilagem que reveste as articulações, protegendo e retardando o processo degenerativo e inflamatório da cartilagem, diminuindo a dor e causando a diminuição da limitação dos movimentos que geralmente acontecem em doenças que atingem a cartilagem. O uso conjunto das duas substâncias sugere um melhor resultado, o qual só poderá ser percebido após o uso ininterrupto das drogas por no mínimo trinta dias.
Apesar de popularizado, ainda há muita controvérsia no meio médico a respeito do real efeito benéfico do uso destas drogas no paciente com artrose.
colágenos:
Outra opção tanto no tratamento da dor como na tentativa de manutenção da cartilagem residual, porém com resultados muitos discutidos na literatura médica.
O colágeno é um conjunto de proteínas que pode ser encontrada na pele, tecidos e ossos. Na ortopedia, é importante por manter a integridade dos músculos, dos ligamentos, dos tendões e das articulações, podendo ser encontrado em alimentos, como carne e gelatina ou suplementos alimentares em cápsulas ou sachês.
Os suplementos de colágeno podem ser encontrados em duas formas diferentes no mercado: colágeno tipo 1 e colágeno tipo 2. Ambos os tipos têm diferentes formas, doses e finalidades, sendo, por isso, considerados suplementos diferentes.
Independente do tipo de suplemento, é muito importante consultar um médico antes de iniciar o uso, já que a dose adequada para cada problema a tratar deve ser bem adaptada.
• Programa de fisioterapia direcionado ao quadril
A fisioterapia desempenha um papel fundamental no tratamento não cirúrgico do desgaste do quadril. O objetivo principal é ajudar o paciente a aprender como minimizar os sintomas e maximizar a saúde do seu quadril. Manter o arco de movimento e a força muscular é importantíssimo, já que o quadril tende a perder movimento e força com o avanço da doença. Exercícios de amplitude de movimento e alongamento serão usados para manter e se possível melhorar o movimento do quadril. Séries com exercícios de fortalecimento para o quadril ajudarão a estabilizar a articulação e protegê-la do impacto e sobrecarga. O terapeuta poderá sugerir dicas que permitam ao paciente manter suas tarefas diárias com menor agressão à articulação.
Saiba mais em: Osteopatia no tratamento da artrose do quadril
Pilates no tratamento clínico das artroses do quadril e joelho
• Perda de peso
Para pacientes “gordinhos”, emagrecer é muito importante, mas perder peso com dor que impede ou dificulta muito a prática desportiva pode ser uma tarefa impossível. Sempre vale a pena tentar, pois pacientes com sobre- peso ou obesos podem necessitar uma incisão cirúrgica maior, ter seu tempo operatório extendido por dificuldades técnicas provocadas pelo excesso de tecido gorduroso, além de apresentarem uma maior probabilidade de complicações, como infecção e perda sanguínea.
No período pós-operatório, o excesso de peso tende a dificultar a reabilitação, além de aumentar os risco de outras complicações relacionadas a obesidade, como trombose, flebites, dificuldades respiratórios e complicações de doença diabética. Apesar de todas as dificuldades descritas acima, em procedimentos cirúrgicos sem complicações, não são observadas diferenças no programa de recuperação e nos resultados clínicos entre os pacientes de peso normal e os acima do peso.
Link para a página orientações alimentares
• Atividade física
Convencer um paciente que sofre de artrose a praticar atividade física regular é uma missão quase impossível. Para a maioria dos pacientes com artrose, a palavra “exercício” não faz parte de seu vocabulário. O desgaste deixa a musculatura e a articulação rígida e dolorosa, e muitos pacientes evitam movimentos com medo da dor. Mesmo em atividades básicas, como caminhar, protegem a articulação acometida, evitando o movimento. A falta de mobilidade leva a atrofia muscular que por sua vez promove a diminuição ou perda da estabilidade articular, contribuindo para a piora progressiva da dor. Temos então um círculo vicioso: dor diminui movimento, que atrofia os músculos, que piora a estabilidade das juntas, que piora a dor.
Sabendo disso, posso afirmar que a atividade física é parte crucial do tratamento da artrose. Mesmo nas artroses mais graves, sempre haverá espaço para trabalhar a articulação, sempre com orientação especializada e respeitando o limite de movimento e o limiar de dor.
Link para atividades aeróbicas nas artroses dos membros inferiores
Link para musculação nas artroses de quadril e joelho
Link para pilates na artrose do joelho e
• Infiltração do Quadril
Infiltrar significa injetar um medicamento através de uma agulha diretamente em uma parte do sistema musculo-esquelético.
A infiltração no quadril é uma técnica empregada para auxiliar no tratamento de muitas patologias ortopédicas que acometem esta articulação. Ela pode ser aplicada na articulação, musculatura, nervos ou tendões.
As principais patologias do quadril que podem se beneficiar de infiltrações são:
• Artrose ou desgaste articular
• Sinovite ou inflamações da articulação
• Necrose da cabeça do fêmur
• Impacto fêmuro-acetabular
• Tendinites e bursites
• Síndrome do piriforme
• Pubalgia
• Sacroileíte
• Ressalto do quadril
As infiltrações intra- articulares (dentro da junta) devem ser guiadas por imagens, pois a articulação do quadril é profunda e sem a utilização de radioscopia (aparelho portátil de Rx) ou ultrassonografia a chance de errar o local da aplicação é enorme.
O procedimento deve ser feito de forma asséptica, preferencialmente em ambiente hospital. Realizado com anestesia local e leve sedação, a técnica é rápida e segura, onde normalmente o paciente já sai andando, não sendo necessário o uso de muleta ou repouso domiciliar.
Os medicamentos injetados variam de acordo com o quadro clínico e o objetivo da terapia. Os mais comuns são:
• Anestésico. Utilizado para amortecer a região da dor em quadros crônicos ou severos. Ele pode ser utilizado para um teste terapêutico, a fim de saber de onde vem a dor e confirmar qual estrutura deve ser tratada. Ainda, o anestésico pode ser associado com outros medicamentos durante a infiltração.
• Corticóide. Uma infiltração muito comum tanto dentro quanto fora da articulação do quadril. O principal benefício do corticoide é amenizar o processo inflamatório, melhorar a dor e mobilidade para que se consiga uma reabilitação através de estabilidade muscular e articular.
• Ácido Hialurônico. Também chamada de viscossuplementação articular, a infiltração com este tipo de produto foi primeiramente estudada em joelhos e só depois usada no quadril. Ela melhora a mobilidade do quadril e lubrifica a articulação. Saiba mais em Viscossuplementação com ácido hialurônico na artrose de quadril
• Plasma Rico em Plaquetas (PRP). Um promissor tratamento para a Ortopedia e lesões de cartilagem e tendões. Vários estudos mostram resultados animadores para seu emprego. Porém, seu uso ainda é restrito no Brasil. Link para página PRP
• Bengala
O uso de bengala pode ser útil em quadris dolorosos, aliviando a carga de peso na articulação. O uso correto de bengala deve ser sempre no lado contrário ao lado que dói. Assim consegue- se dividir o peso do corpo entre o quadril doente e a bengala de apoio.
Resumindo, artrose do quadril direito, bengala na mão esquerda. E vice-versa.
Tratamentos Cirúrgicos
O tratamento cirúrgico deve ser conduzido de forma individualizada, considerando- se a idade, a etiologia (causa), as atividades rotineiras do paciente, sua amplitude de movimentos.
Os vários procedimentos podem ser divididos em três tipos:
1- os que preservam a articulação:
• Osteotomia
Quando o alinhamento da articulação do quadril está alterado por doença ou trauma, ocorre uma distribuição anormal do peso nas superfícies articulares, podendo levar à dor e à degeneração (desgaste).
Em casos específicos, a cirurgia para realinhar os ângulos seja da cavidade acetabular ou do fêmur pode resultar na melhor distribuição da força peso na junta do quadril, em especial nas partes saudáveis da articulação. O objetivo é distribuir de maneira equilibrada as forças sobre toda a superfície articular. Isso pode ajudar a aliviar a dor e retardar a degeneração.
O procedimento para realinhar os ângulos da articulação é chamado de osteotomia.
Estas cirurgias possuem indicação bastante precisa, onde o objetivo cirúrgico é direcionado somente ao alívio da dor e retardo do processo de desgaste. As osteotomias normalmente não melhoram o arco de movimento nem eventuais encurtamentos do membro afetado. Possuem a vantagem de preservarem a articulação do paciente, em especial naqueles mais jovens, retardando procedimento mais agressivo, como a substituição articular por uma prótese de quadril.
2- os que substituem a articulação
• Artroplastia (Prótese) Total do Quadril
Link para a página prótese de quadril
3- os que fusionam a articulação:
• Artrodese do Quadril
Consiste na fusão cirúrgica entre a cabeça do fêmur e a cavidade acetabular.
Em resumo, do ponto de vista prático, nos estágios iniciais da artrose do quadril, as opções preservadoras são preferíveis. Já nos casos mais avançados, onde graves lesões cartilaginosas acentuam os quadros clínicos com dor contínua e grave incapacidade funcional, em especial para marcha, a artroplastia total do quadril é o procedimento de escolha, sendo, inclusive, considerada a cirurgia ortopédica de maior sucesso do século XX. Atualmente, a artrodese é uma técnica em desuso, sendo reservada apenas em situações muito específicas e individualizadas.
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